Entre a Gente do Centro (Amazônia colombiana), as pessoas retratam discursivamente a si mesmas e a outrem numerosas vezes, tecendo considerações sobre a competência e a moralidade próprias e a carência alheia dessas qualidades. Neste ensaio, atento para um conjunto particular de retratos discursivos: aqueles que, concernindo especialmente aos homens, se referem a formas de conhecimento que cada grupo da Gente do Centro considera dele próprio e de mais ninguém. Os indivíduos enfatizam a grande quantidade de conhecimento que possuem; a retidão dos processos que levam a cabo para adquiri-lo; a legitimidade do uso que dele fazem; sua eficácia; seu caráter autenticamente patrilinear; e o respeito e medo que, por causa dele, inspiram em outros. Também endereçam críticas a outrem por falhas relativas a esses aspectos. Essas avaliações baseiam-se no que se considera admirável ou desejável na subjetividade e na ação humanas - masculinas e femininas, diferencialmente -, nos marcos de um cosmo perspectivista permeado por relações predatórias. Meu argumento é que os indivíduos produzem tais retratos morais motivados pelo desejo de encorporar um certo ideal de agência masculina, sob o estímulo de saberem provável que suas próprias ações e subjetividades sejam retratadas, por outros à sua volta, como imorais, animalescas ou, de todo modo, inadequadas. O ensaio sublinha, no geral, a importância de atentar-se etnograficamente para a subjetividade dos indivíduos.
Individuals among People of the Center (Colombian Amazon) produced numerous discursive depictions of themselves and of others, regarding their own competence and morality and others' lacks thereof. Here, I attend particularly to a set of portrayals that pertained mostly to men: those concerning forms of knowledge that each People of the Center deemed uniquely their own. Individuals stressed the great amount of knowledge they possessed, the propriety of their processes of acquisition and the legitimacy of their use of it, its effectiveness and authentically patrilineal character, and the respect and fear others had of them because of it. They also criticized others for shortcomings in these regards. They articulated their evaluations in terms of what they found to be admirable or desirable in gendered human subjectivity and action, in the frame of a perspectival cosmos permeated by predatory relations. I argue that individuals produced such portrayals motivated by desire to embody a certain ideal of masculine agency, and spurred by their awareness of the likelihood that their own actions and subjectivities would be portrayed as immoral, animalistic or otherwise inadequate by others around them. As a whole, the essay stresses the importance of attending ethnographically to individuals' subjectivity.